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Como estou lidando com as ansiedades da Gravidez

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Que imenso processo de transformação é uma gravidez. Na minha primeira gravidez eu decidi ser observadora. Meu corpo, um corpo capaz de gerar vida, despertou. Embalado por uma complexa estrutura orgânica inteligentíssima, um ser humano se desenvolve silenciosamente e a minha psique mergulhou profundamente nessa experiência. Em um tornado de guias, informações e manuais eu optei pelo simples reconhecimento e ouvidos para o que meu corpo estava dizendo. Não foi calculado, foi um movimento natural.

Não foi mágico e romântico, foi assustador. Durante semanas as oscilações hormonais faziam com que a comida, uma das minhas fontes de prazer, fosse obrigação e desagrado. Os cheiros mudaram, e nem todos para melhor, e o cansaço tirou a disposição que sobrava e me fazia ser produtiva. Primeiro lutei, depois me entreguei ao que o meu corpo pedia. Eu teria que ter paciência, ele estava me avisando. Ele, meu corpo-eu, não estava de acordo com a minhas prioridades e absolutamente não se sentia bem com a minha pressão por produtividade.

Eu quis me aninhar. Senti uma vulnerabilidade bater na porta da minha casa mental e dizer “Eu existo e estou aqui”. Coloquei um cobertor na sala, trouxe uma xícara de chá de gengibre com limão e avisei ao meu parceiro que ele precisava estar ali, que eu queria que ele estivesse ali, para me ajudar a criar essa novo espaço em nossas vidas. Senti as inseguranças vindo em ondas imensas e perguntas que se repetiam “A gravidez vai bem?”, “o bebê vai bem?” e a cada sintoma que surgia a busca por informações me jogava em um universo rico e assustador chamado internet.

Eu tive que parar, sentir a ansiedade que essa escolha de estar preocupada com todos os sinais gerava e estou exercitando deixá-las fluir. Criei um sistema em que me faço uma série de perguntas: “O seu desconforto pode ser cuidado?”, “O seu medo é algo real ou uma projeção futura?” “Se ele acontecer, você saberá como encontrar suporte para lidar?” “Sua preocupação garantirá que ele não acontecerá?”. Repito o exercício quantas vezes forem precisas. E descobri que esse exercício ganhou impacto em outros acontecimentos ao meu redor que não tem momento certo, que não deixam de vir porque você está grávida e que compõe a montanha russa da vida.

Eu escolhi encontrar a minha rede de suporte. Algumas pessoas estão próximas de seus pais, tios e amigos de infância quando engravidam, eu não estou. Algumas pessoas se sentem sozinhas mesmo quando estão próximas dessas pessoas. Uma amiga muito querida, que faz parte da minha rede de suporte, me lembrou um certo dia em que eu consegui colocar em palavras tudo que eu estava vivendo, que eu precisava chamar minha rede de suporte para participar mais. Foi então que eu olhei para as pessoas que eu quero que façam parte da minha vida e as chamei para estarem comigo nessa fase tão intensa. Comecei a dividir mais o que sentia, o que queria e as pequenezas de querer um café da tarde com papo, uma noite de pizzada ou uma fuga de fim de semana para uma cidade pequena.

Estou em treino intensivo do dizer “não”. A vulnerabilidade trouxe a certeza de que eu precisava me respeitar mais mesmo que trouxesse descontentamento às pessoas que amo. Eu precisava aprender a comunicar melhor as minhas decisões, de forma que as pessoas percebessem que aquilo era um limite ou necessidade minha que merecia ser respeitada. Eu não precisava de uma tese de mestrado para provar que eu queria ou não queria algo, eu de repente poderia só sentir e comunicar.

Todas as oscilações de humor são observadas carinhosamente. É um treino. Eu choro no banho de emoção com o novo momento, eu choro na cozinha com medo de que algo “dê errado”. Eu dou risada da piada mais sem graça e perco a paciência com meus esquecimentos contínuos. Está tudo bem mesmo se não estiver. A vida busca equilíbrio e não há nada garantido, e é por isso que como seres humanos criativos e incríveis nós criamos estruturas que dêem conta de viver bem assim mesmo.

Eu não serei uma mãe perfeita, serei a mãe que poderei ser. Estou fazendo as pazes com isso. Serei a mulher que se tranforma nas fases da vida e desejarei que meu bebê tenha a educação libertadora para que possa questionar toda a educação que lhe for proposta. Não serei super heroína porque não quero ter que fazer tudo sozinha. Não serei mártir e desde já meu bebê não é meu, ele é dele mesmo. Eu não escolhi engravidar para completar minha vida.

Eu sei que sou privilegiada. Tenho um parceiro muito presente e envolvido, tenho amigos, família, condições dignas de vida e educação. E mesmo assim, que momento mais intenso e desafiador. Como toda entusiasta da ciência, contemplo as maravilhas de cada nova semana gerando um bebê e o tom mágico e milagroso que embala esse acontecimento.

Eu escolho convidar, cada uma das pessoas que vem aqui e investe um tempo desse dia nessa nossa relação de carinho e amparo, para fazer parte desse momento e se sentir seguro para dividir o que quiser. Obrigada por todas as boas energias, por todas as mensagens desejando saúde e por estarem aqui.

 

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