São 9am enquanto escrevo esse texto. Eu já troquei fralda três vezes, já dei café da manhã (ovos, banana e uma torradinha integral), já lavei a louça da janta passada (sinceramente eu estava cansada e só queria um tempo para um filme ontem depois que a baby dormiu), já coloquei a roupa da baby para lavar (estávamos ficando sem fraldas de pano), já troquei a roupa de cama dela (ela fez xixi até vazar essa madrugada). São 9am, entende?
Você provavelmente já sabia, mas agora isso está tão evidente que não pode ser disfarçado. Crianças não dão a mínima importância para técnica pomodoro. Crianças e bebês não querem saber se você tem um planejamento, uma meta, uma agenda da semana e uma métrica para produtivo. Aliás, se você está sendo muito produtivo tendo um bebê ou crianças então das duas uma: ou você está conseguindo ter alguém (ou alguéns) para dividir a carga emocional e física ou você está negligenciando (de alguma forma) o desenvolvimento saudável desse serzinho.
E aí vem a quarentena e bagunça todo o nosso coreto ensaiado, de tantas formas maravilhosas e assustadoras. Primeiro porque nossa rede se desmonta (exceto para quem tem a rede morando na mesma casa) e aí somos nós e as crianças. E tudo aquilo dividido com a(o) babá parceira(o) ou a escola ou os avós para. E aí somos nós e as crianças. Espera, eu já tinha dito isso, né? Ok, cansaço.
Pausa para colocar a baby para cochilar. Estamos tentando um novo formato de soneca que contei no instragam, porque ela não estava aceitando o antigo.
Agora, eu imagino que você deve ter ido no Google procurar “atividades para fazer com meu filho(a) de … anos”, ou “o que fazer com crianças em casa” e por aí vai. Você encontrará mil ideias, além de todas as atividades e coisas que os professores(as) da escola da molecada já devem ter deixado para alguns dias. Mas, amigos, o buraco é bem embaixo.
Porque se você antes tinha como dividir (ou correr mesmo) da demanda física e emocional que as crianças fazem para se desenvolver bem, agora não tem mais. E toda a sua disposição, criatividade e inteligência emocional serão exigidas em um nível que nos custará uma energia bem grande. Essa é a hora do texto que vocês respira e diz: “é, assumo que é desafiador. Assumo que estou cansadx sem entender bem como darei conta”. Ok? Porque se você decidiu educar, você vai se sentir assim mesmo. E tudo bem. Ninguém quer ser herói, amigxs.
Mas o que adianta eu te dizer tudo isso que você está aí descobrindo nesse tempo em isolamento social com crianças?
- Você se sentirá mais amparado porque perceberá que outras pessoas se sentem como você. Esse é o senso de coletividade, de comunidade que se acolhe. É fundamental para termos forças e ferramentas para dar conta do que estamos vivendo.
- Crianças são incríveis, eu particularmente acho. Sou completamente fascinada pela minha filha, pelo que aprendo com ela, pelo que ela é e como se desenvolve. Mas tem hora que é exaustivo e eu não queria ter a responsabilidade de ser mãe dela. Porque eu canso, eu choro, eu saio do quarto dela (depois de 2 horas tentando fazer ela dormir e vou pro travesseiro no outro quarto de porta fechada gritar minha frustração) e porque ela faz com que eu perceba todas as minhas desinteligências emocionais.
- Porque vamos ter que focar no que é possível para cada um, dando o melhor que podemos. Esse é o caminho. Vamos procurar atividades no google e tentar com as crianças? Vamos! Vai dar certo? Nem sempre. Vamos fazer isso sempre? Não. Vamos cansar? Já cansamos. Vamos ter momentos divertidíssimos? Vamos. Vamos pirar? Provável. Vamos deixá-los assistir televisão o tempo todo? Parte de nós queria, mas não. Vamos proibir televisão? Não precisamos necessariamente. Vamos vetar o tablet e vídeo game? Não! Vamos deixar esses eletrônicos educarem nossas crianças? Não. Vamos fazer o melhor possível para encontrar o equilíbrio.
- A gente vai perceber que ninguém é tão produtivo (dependendo do que isso significa para você) tendo as crianças em casa.
- Tenha tempos para você, se possível. Entendo o desejo de ir fazer tudo que está atrasado no curto cochilo (ou pausa TV) do seu niño. Mas você precisa se reequilibrar pra dar conta do que vem. Pausas curtas para você serão mandatórias. Uma meditação breve, um chá, um yoga ou seu jeito de pausar.
- O cansaço não é desculpa para descontarmos nossa desinteligência emocional nas crianças. Um surto ou outro é compreensível e passível de diálogo e recuperação. Um hábito desse é nocivo e cruel. Se você percebe que faz isso o tempo todo, procure ajuda! Está tudo bem. Não é uma questão de repreensão, é ajuda para ganhar ferramentas que você talvez precise.
- Não estamos em férias. Vivemos um momento bastante delicado e desconcertante da existência. Então, caros, diálogo e conexão são o único caminho possível. A conexão física e afetiva com os seres de mesma residência ou a conexão afetiva com outros seres no universo de vídeo chamadas. Até por isso eu quero propor que você junte-se à mim através do hangout às quinta-feiras 8:30pm para falarmos sobre como as coisas estão caminhando, se precisamos de ajuda, como estamos nos sentindo e dar ideias do que fazer. É acolhimento coletivo virtual. Vamos? Mande um e-mail para pamela@paisqueeducam.com.br se quiser embarcar nessa, com o título “Nossa rede”. Convide todo mundo que estiver afim e vamos lá.
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