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Quando chega um bebê

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Quando chega um bebê a vida vira do avesso. Não há mais noite, dia, alimentação regrada, sono direto e tranquilo. É como se entrássemos em um estado de alerta constante para qualquer manifestação de necessidade daquele ser. Esse bebê chora choros que a gente nem sabe dizer porquê, pede coisas com os olhos que demora um tempo para decifrarmos e ri risos soltos de quem confia em nós para viver.

Esse bebê exige tudo de nós. Ele tem um cheiro que me liga à ele que se liga ao meu cheiro. Somos ligados. Esse bebê precisa de nós inteiros, metades não lhes convém e a gente às vezes de desespera por inteiro. Ele faz exigências de contato físico, de alimentação, afeto e de sobrevivência. Sou dele e ele é meu e nos misturamos um tanto. Que angústia já nem lembrar mais quem fui direito, e esse amor e essa responsabilidade me enchem o peito e transbordam a vida.

Esse bebê chegou mudando o eixo sem pedir. Quando ele ri nosso coração enche de alegria, quando ele chora entramos em ansiedade. Ele nos deu bolsas embaixo dos olhos e dor nas costas. Será que tomei banho hoje? Qual foi a última hora em que comi? A gente vai se desligando um pouco da gente, é normal? É normal? É normal que ele me faça perguntar tantas vezes se algo é normal?

Hoje vieram nos visitar. Todos nos encantamos com esse novo ser tão doce, frágil e pequeno. Ao abrir a porta para receber a visita, lembrei que não sei a última vez que saímos de casa. Acho que há umas três semanas. Que dia é hoje? A visita chegou e as roupas estão todas espalhadas pela sala e eu finjo que a visita será capaz de fingir não notar a bagunça e tudo bem. Tudo bem, hoje tiramos o pijama ou moletom.

Nós e o bebê precisamos de contato de pele com pele, nem lembro a última vez que coloquei uma roupa bonita. Bonito é o sorriso que recebemos quando ele se aconchega no peito. Ouço a respiração baixinho. Ele espirra e a gente já pensa se está fazendo tudo como deveria fazer. É normal? Esse bebê merece um melhor de mim que nem sei se tenho acesso. Mas ele me olha como se já tivesse tudo que precisa.

Photo Credit: Pexels

Nós e o bebê não podemos ficar sozinhos tanto tempo, já sacamos. É desgastante demais, é preciso nos lembrar de quem somos para além dele. Esses dias estavamos tão ousados com as habilidades que já adquirimos que arriscamos fazer um jantar especial. Tínhamos uma hora e meia para os preparativos, o jantar e um mínimo de organização. Sucesso e correria.

Aos poucos eu estou confiante que iremos entendendo mais nosso bebê. Aos poucos eu também sei que ele mudará e nós precisaremos entender as novas coisas sobre ele. Porque queremos o melhor pra ele, e não aceitamos menos que isso.

Mas a diferença mesmo é ser “nós” nesse momento. Se fosse só eu seria mais difícil do que eu talvez fosse capaz de suportar. É, acho que é muito mais humano ser nós. Para que nenhum se sinta só, desamparado e para que quando se sinta seja acolhido e cuidado. É um momento tão delicado que eu não sinto que poderia ser  diferente.

Nosso bebê não é mágico, nossa conexão não é de primeira, não sentimos maravilhas o tempo todo, não há plenitude na hora de trocar fralda ou não dormir. Mas a imensidão do amor que sentimos você entende.  

OBS: Esse texto foi escrito a partir de uma conversa muito profunda com uma amiga querida (que preferiu manter sua privacidade) que acabou de se tornar mãe. Essas não são as palavras dela, são a minha leitura da nossa conversa somada com todos os e-mails de mães e pais de primeira viagem que já recebi. Um abraço cheio de carinho à todos.

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